Artigo 2 : Temas Comuns

Temas comuns

Das entrevistas realizadas sobressaíram alguns temas comuns na prática das instituições:


- Associação ou Fundação: grande ou pequeno?

A pergunta incide sobre dois aspectos: modelo de organização e "ritmo" de trabalho e crescimento. A Cascoland é um projecto de pequena dimensão (equipa de duas pessoas) que trabalha continuamente ao longo do ano para preparar um evento no qual participam dezenas de pessoas. Nesse sentido aproxima-se do modelo de um festival. A Theatre Embassy é uma organização que começou com um projecto pontual de cooperação internacional e que, neste momento, acaba de passar para um escalão de maior apoio financeiro por parte do Estado; a Mediamatic é já uma fundação de contornos comerciais.
A questão surgiu na entrevista a Fiona de Bell e Roel Schumacher (Cascoland) onde ambos concordam que, tendo hipótese de cresceram, preferem manter-se pequenos e ágeis, evitando tornar-se uma máquina burocrática, onde não teriam espaço de intervenção individual enquanto artistas. Pelo contrário, Bas van Abel (FabLab/ Waag Society) aponta para a importância de crescer, na medida em que só através da institucionalização se torna possível influenciar as políticas culturais.


- Pontual ou Prolongado: eventos dispersos ou cooperação a longo prazo?

Por vezes, os projectos de arte comunitária/ na comunidade refugiam-se no amplo significado de empowerment. A noção de empowerment implica, entre outras, uma prática dilatada no tempo, uma vez que o processo de "desenvolver poder" está sujeito a um progresso, um crescimento, feito de avanços e recuos, erros, revisões. A Theatre Embassy desenvolve este tipo de trabalho, acompanhando o crescimento de um colectivo artístico ao longo de vários anos, através de processos artísticos, financiamento, mediação. Pelo contrário, a Cascoland prefere dinamizar uma série de pequenos projectos de grande impacto visual e eventual. A influência na comunidade resulta através de um evento extraordinário, excêntrico, que agita a cidade no momento e se inscreve na memória dos participantes. De modo similar, a OpTrek desenvolveu uma série de projectos artísticos pontuais mas que, acontecendo sempre no mesmo espaço, o bairro do Transvaal em Haia, pouco a pouco se inscreveu no espaço público e desenvolveu hábitos em comum com a comunidade. A Formaat, em relação a estes critérios, desenvolve um trabalho intermédio, com projectos pontuais mas que implicam uma série de etapas: o grupo de toxicodependentes começa por ter reuniões com o director artístico, terá exercícios de iniciação teatral, conceberão um esquema dramatúrgico e, finalmente, apresentarão um espectáculo, tendo participado em todas as etapas de criação. Por fim, a Community Art Lab procura acompanhar projectos do "esboço ao espectáculo", intervindo e mediando no tempo de cada projecto pontual.


- Produto ou Processo: arte na comunidade ou arte comunitária?

Esta é uma das questões recorrentes em relação à arte comunitária/ na comunidade uma vez que distingue dois conceitos fundamentais na definição de ambas: o produto final é algo que importa na arte na comunidade, uma vez que o processo é completamente controlado por um artista, em função de um fim que resulte para si próprio, a comunidade é uma inspiração ou um contexto de apresentação (um ponto de partida ou um ponto de chegada); pelo contrário, a arte comunitária pretende desenvolver um processo caracterizado pela participação, diluindo a autoria pelos participantes que intervêm em todas as fases do processo, entre elas o produto final. O artista age como mediador, aplicando mais as técnicas anónimas da sua disciplina que impondo a sua visão pessoal. Luc Opdebeeck, da Formaat, diz de si próprio que "não é um artista, mas um activista". Este tema foi transversal a todas as entrevistas. Creio que é uma questão central uma vez que se trata - ainda - de um contexto artístico, onde tradicionalmente se trabalha em função de um produto final, enquadrado (por princípio, no fim) no meio artístico. Nas suas visões tão definitivas para um e outro modo, estes dois termos, produto e processo, balizam os limites do espectro no qual se inscrevem estas práticas. Donde Eugene van Erven distinga entre projectos "art-driven" ou "participant-driven". O que é consensual em relação a este tema é que, quer numa abordagem ou noutra, importa a qualidade do produto final uma vez que reflecte quem participa nele, artista ou comunidade. Reflecte rigor e criatividade, representa identidade.


- Local ou Global: que tipo de escalas?

Na entrevista a Arne Hendriks, da Platform 21, este refere que têm "um público que não está fisicamente com eles, mas está em contacto". Esta imaterialidade antecede, actualmente, qualquer discussão sobre a relação entre Local e Global. O título desta pesquisa é Localismos, uma vez que se procurava destacar projectos de âmbito local, que interagem com comunidades. Mas, por vezes, as próprias comunidades são imateriais, como demonstra o trabalho da Mediamatic com redes digitais. Pelo contrário, o trabalho da Theatre Embassy acontece junto de comunidades fisicamente reais mas à distância de milhares de quilómetros.
Todos concordaram que o seu trabalho é legitimado no processo de interacção local, mas só parece tornar-se realmente "acabado" no reconhecimento global, "real" através da mediatização dos processos que, em si, não são produtos finais, mas ecos. A OpTrek, a Formaat, mesmo a Cascoland, trabalham à escala local e isso reflecte-se na dimensão das suas estruturas administrativas, pequenas, ágeis, breves, personalizadas, ao contrário de uma Stadsspelen ou Waag Society, estruturas anónimas que favorecem a passagem do conceito a uma "marca". Por um lado, o anonimato da marca permite a sua rápida difusão, a sua globalização; por outro lado, numa sociedade de informação cada vez mais interligada (e autoral), onde a Internet 2.0 promove diariamente a escala local a título de "exemplo", os projectos locais são descentrados do seu ponto de partida. O Local é uma realidade do Global e o Global é virtualmente um Local.
O melhor exemplo de Localismo talvez seja aquele dado por Berith Danse, da Theatre Embassy, quando refere o sentimento de vazio que os encenadores sentem quando regressam de um projecto num país em desenvolvimento. O trabalho ficou, irremediavelmente, no local em que apareceu.


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