motivação artística de Localismos

Sinopse
Pesquisa e recolha de exemplos artísticos e teatrais de empowerment local na Holanda.
Posterior comunicação da investigação através de conferências e publicação de textos on-lin em Portugal, com o objectivo de promover o debate sobre teatro social, projectos comunitário e participativos.




Breve Historial
Após dez anos como fazedor de teatro, tenho tido a oportunidade de passar por uma série de “profissões do teatro”: actor, encenador, professor, produtor, programador, crítico. Destas, tenho privilegiado o trabalho artístico como actor e encenador, compreendendo o ensino como uma prática ainda tocada pela perspectiva artística. É assim que, recentemente, comecei a desenvolver oficinas enquanto modelos intermédios de criação artística e experiência pedagógica.

No fundo, interessa-me neste modelo a possibilidade de preparar uma experiência sensível e, sobretudo, por ser um modelo participativo. O espectáculo de teatro torna-se muitas vezes um acontecimento para ser visto, e não para dar a ver. Nessa medida, perpetua-se enquanto lugar de poder, mas de um poder representativo e anónimo, distante daquele teatro que se celebra como momento de partilha e encontro, de participação comunitária. Olhando em perspectiva, vejo como há uma forte tendência política no meu trabalho artístico. Mas de uma política da cidadania, dos encontros e das pessoas.


Foi assim que fui atraído para algumas das novas tendências performativas: a flashmob,
o audio-walk, o role-play, o teatro documentário, o teatro forum. Partindo dos conceitos desenvolvidos em tese de mestrado, cheguei a uma reformulação da minha prática considerando que o artista de teatro é alguém que cria acontecimentos representacionais através de agentes. Isto significa que considero o fazedor de teatro numa generalização artística, transdisciplinar, como alguém que prepara eventos num espaço e tempo determinados para um público ao vivo, mas um tipo de eventos marcados por uma representação, uma perspectiva. Estes acontecimentos são interpretados por agentes, não por actores. Após a legitimação da performance e a progressiva desmaterialização do teatro (hoje há espectáculos sem actores) importa a acção e, num mundo cada vez mais interligado e comunicante, importa a participação.


Escrevo neste momento na baixa de Maputo, em Moçambique, onde estou através do contacto feito com o Grupo de Teatro do Oprimido - Maputo. Apoiado pelo Programa Gulbenkian de Apoio ao Desenvolvimento, desenvolvi várias actividades com este colectivo: oficinas de interpretação, oficinas sobre novas técnicas de teatro comunitário; apoio à encenação; revisão do Manual do Curinga, utilizado na capacitação de novos grupos em todo o território de Moçambique. Muito recentemente, tive a oportunidade de viajar de Maputo a Pemba, confirmando esse trabalho e outros que se vão fazendo pela Beira com os Haya-Haya, em Quelimane com os Montes Namúli, na Ilha de Moçambique com o GTO, em Pemba com os Tambo Tambulani Tambo.


Esta experiência tem vindo a sensibilizar-me para a importância de projectos artísticos
de dimensão local. Aqui, onde a necessidade é enorme, parece que há todo o espaço de
intervenção, tudo está por fazer ou fixar. Mas sente-se a diferença que uma só pessoa pode fazer, dinamizando e encorajando pequenos projectos que se enraízam nos hábitos e mudam vidas ao longo do tempo. Trabalha-se pelo empowerment, isto é, pela capacitação de pessoas em vista da sua autonomia. Encoraja-se, reconhece-se, aconselha-se.


Dar poder é mais que dar objectos materiais, é capacitar para construir o que se possa querer.
Também no auto-proclamado “primeiro mundo” começam a surgir cada vez mais projectos semelhantes. Lutam pela inclusão e pela identidade de comunidades, devolvendo-lhes espaço de intervenção, imagem e nome, devolvendo-lhes cidadania e poder de participação. Paradoxalmente, a explosão da comunicação global tem vindo a reforçar a afirmação das pequenas identidades. O local é o novo paradigma do global.


Durante as investigações que tenho realizado, antes de vir para Moçambique e ainda agora, tem crescido o interesse em aproximar-me destas organizações, perceber os seus mecanismos e diálogos, as diferentes formas que abrigam diferentes conteúdos.
Dada a sua natureza social, política e histórica, a Holanda tem vindo a incentivar este tipo de projectos artísticos, determinados pelo risco e pela experimentação, e que começam agora a resultar de forma social. Estes projectos têm vindo a consolidar a participação cívica, aproximando artistas e comunidades, privilegiando as identidades locais e os costumes, não de forma documental e museológica, não para preservar e repetir, mas no sentido de evoluir, associar, aprender. Viver a cidade. Viver a comunidade. “Empoderá-la”.


Nesta proposta, pretendo ir ao encontro destes projectos, compreender a mecânica da sua organização administrativa, a orgânica da relação entre artistas e comunidades, os diferentes temas abordados e a diversidade de estratégias de participação. Creio que poderei reunir um conjunto importante de informação a ser transmitido a um crescente e interessado grupo de pessoas e associações portuguesas que têm vindo a acompanhar estes e outros projectos, reforçando pontes e redes entre Portugal e Holanda, através de projectos e comunidades. A informação será reunida sobre a forma de entrevistas, depoimentos, textos e edições das próprias organizações. O material será posteriormente compilado e apresentado publicamente, promovendo a participação de representantes de projectos portugueses, artistas, profissionais da área social e cidadãos, sendo também publicado on-line, aumentando as possibilidades de divulgação e influência, mantendo-se acessível em permanência.




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